176 ciclistas de 22 equipas distintas alinharam-se à partida para percorrer 3 445,6 quilómetros numa edição do Giro d’Italia que teve no seu pelotão três vencedores da prova – Richard Carapaz (Ineos Grenadiers) em 2019, Tom Dumoulin (Team Jumbo – Visma) em 2017 e Vincenzo Nibali (Astana) em 2013 e 2016 – e três portugueses – João Almeida, Rui Costa e Rui Oliveira, todos pela cor da UAE Team Emirates.
Pela 14ª vez a Grande Volta italiana começou fora de portas, desta feita em Budapeste, com Mathieu van der Poel (Alpecin Fenix) a impor-se perante Biniam Girmay (Intermarché – Wanty – Gobert), tornando-se no primeiro líder da prova. O dia seguinte trouxe não só o primeiro contra-relógio individual da prova mas também um par de surpresas. Simon Yates (BikeExchange) foi o mais forte com van der Poel a procedê-lo, preservando a maglia rosa. Na despedida de terras húngaras, Mark Cavendish (Quick – Step) bateu toda a concorrência, naquela que foi a sua 63ª vitória em Grandes Voltas, a 16ª no Giro d’Italia.
Após o primeiro dia de descanso, os ciclistas enfrentaram o Etna, no primeiro embate entre os favoritos. A fuga do dia vingou, tendo Lennard Kämna (Bora – Hansgrohe) vencido com Juan Pedro López (Trek – Segafredo) a chegar logo depois rumo à liderança numa classificação geral que viu os principais favoritos chegarem compactos. A 5ª etapa proporcionou o 3º duelo entre sprinters e Arnaud Démare (FDJ) não deixou escapar a oportunidade. Já fora da ilha da Sicília, Démare voltou a vencer, desta feita batendo milimetricamente Caleb Ewan (Lotto Soudal). A 7ª etapa trouxe de volta a montanha e as fugas vitoriosas. Tom Dumoulin fez um trabalho incansável para o seu colega de equipa, Koen Bouwman, que, ao vencer a jornada, colocou-se numa boa posição para disputar a camisola da montanha. O dia seguinte foi novamente para a fuga, numa oportunidade que Thomas de Gendt (Lotto Soudal) não deixou escapar. A primeira chegada em alto chegou ao 9º dia com a ascensão ao Blockhaus onde a Ineos mostrou todo o seu poderio. Richard Carapaz tentou rematar o trabalho da sua equipa mas foi Jai Hindley (Bora – Hansgrohe), 2º classificado em 2020, a erguer os braços no final.
Após novo dia de descanso, a etapa foi reservada aos sprinters. Biniam Girmay venceu, tornando-se no primeiro ciclista do leste de África a conquistar uma etapa numa Grande Volta, tendo sido alvo de vários tributos, inclusivamente em Portugal:
A 11ª etapa foi novamente dedicada ao sprint, embora já sem Girmay que, após a rolha da garrafa de Prosecco aberta em pleno pódio ter-lhe acertado no olho, desistiu. O mais forte foi Alberto Dainese (Team DSM), na primeira vitória italiana desta edição. No dia seguinte a Itália voltou a vencer, desta feita através de Stefano Oldani (Alpecin – Fenix), numa fuga que, de forma improvável, vingou. A 13ª etapa começou com a notícia do abandono do francês Romain Bardet (Team DSM), então 4º classificado, com Démare a vingá-lo no final do dia ao conquistar mais uma etapa, selando praticamente a sua vitória na classificação por pontos. O dia seguinte foi marcado pelo trabalho exímio da Bora – Hansgrohe que viu o seu líder Hindley a seguir isolado junto de Nibali e Carapaz. Yates venceu a etapa oriundo da fuga e Carapaz ascendeu à liderança por troca com Juan Pedro López. A fuga voltou a vingar ao 15º dia, com Giulio Ciccone (Trek – Segafredo) a mandar os óculos para o público, a sua mítica forma de erguer os braços.
Após o 3º e último dia de descanso, Domenico Pozzovivo (Intermarché – Wanty – Gobert) foi ao chão e ficou mal-tratado, num dia em que Alejandro Valverde (Movistar Team) inseriu-se na fuga do dia à procura de vencer a jornada. O Bala acabou por não estar no ataque decisivo para tal, permitindo a Jan Hirt (Intermarché – Wanty – Gobert) vencer e colocar-se numa luta pelo top-10 final onde o seu colega de equipa, Pozzovivo, perdeu tempo importante face ao sonho de terminar no pódio. A 17ª etapa decorreu sob chuva, com Santiago Buitrago (Bahrain Victorious), um dos fugitivos do dia, a ir ao chão. No entanto, o colombiano conseguiu não só recuperar como vencer a sua primeira etapa no World Tour aos 22 anos. Carapaz chegou sensivelmente três minutos depois com Hindley, numa luta que era cada vez mais a dois.
O 18º dia começou com a notícia do abandono de João Almeida devido a testar positivo para o vírus de covid-19, o único de toda a edição. Azar ou descuido? Não se sabe. Na estrada, Dries De Bondt (Alpecin – Fenix) venceu naquela que foi a 8ª fuga vitoriosa da edição. A etapa seguinte foi conquistada por Bouwman, selando praticamente a vitória na camisola da montanha, num dia sem alterações entre os favoritos. A penúltima etapa era o último grande embate entre os favoritos, num perfil que contemplava o Passo Pordoi, o ponto mais alto desta edição – Cima Coppi, a 2 239 metros de altitude. Alessandro Covi (UAE Team Emirates) conquistou a jornada, aumentando para 10 o número de fugas bem-sucedidas nesta edição. No que toca aos favoritos, Hindley culminou todo um trabalho da sua equipa, deixando um Carapaz vaziou e isolado a 2 quilómetros da meta, fechando o dia com uma diferença de quase minuto e meio sobre o equatoriano. O contra-relógio final foi vencido por Matteo Sobrero (Quick – Step).
À chegada à Arena di Verona, Hindley disse “isto é absolutamente um sonho”. O ciclista selou o triunfo final precisamente 20 anos depois de Cadel Evans ter sido o primeiro australiano a vestir a maglia rosa pela primeira vez. Hindley tornou-se no segundo australiano a vencer uma Grande Volta depois de Evans ter conquistado o Tour de France em 2011.
Arnaud Démare conquistou a maglia ciclamino tal como em 2020. Koen Bouwman tornou-se o primeiro neerlandês a conquistar a maglia azzura e Juan Pedro López o primeiro espanhol a levar a maglia bianca para casa. Filippo Tagliani (Androni Giocattoli) foi o rei dos sprints intermédios, Mathieu van der Poel o ciclista mais combativo e a Bahrain Victorious foi a melhor equipa, numa edição em que Rui Costa fechou no 44º lugar e Rui Oliveira no 141º.
Nota ainda para Vincenzo Nibali que, após anunciar a sua retirada no final da temporada no final da 5ª etapa, recebeu o Prémio Amore Infinito e para Alejandro Valverde que recebeu distinta menção honrosa também.
Entre os comentadores do Eurosport, Olivier Bonamici foi o mais forte no Jogo das Apostas, levando o troféu italiano para casa pela primeira vez.
No que toca aos Envelopes, o prémio ficou para Diogo Santos, que deixou os seus mentores a significante distância.