Contra tudo aquilo que se possa argumentar, o ciclismo mundial vive uma época-de-ouro. Muito por conta de alguém que vê na modalidade não um trabalho mas sim o seu hobbie, a sua maior paixão.
Tal, aliado a um talento acima da média, faz com que Tadej Pogačar (UAE Team Emirates) ultrapasse, uma e outra vez, os maiores obstáculos e montanhas com o maior dos sorrisos. A conquista do 112º Tour de France não foi excepção.
Apesar de acusar algum cansaço emocional-psicológico, o actual Campeão do Mundo não descansará enquanto não conquistar todos os 5 Monumentos e for detentor do recorde de vitórias na Grande Volta Francesa. Meio caminho já está feito.
Ainda assim, o fim deste 112º Tour de France merece não só uma outra reflexão mas também que se comece a colocar certos resultados em perspectiva. O top-10 fechou a 32:42 minutos, quase o triplo do tempo comparado com há cinco anos. Tal deve-se não há falta de talento mas à “guerra” pelos pontos UCI para as promoções e despromoções colectivas trienais. Pois, em termos práticos, as vitórias de etapa – quer na prova francesa quer em outras – “compensam” mais do que um prestigiante lugar na classificação final da prova-rainha do ciclismo.
Ainda a nível comparativo, urge lembrar que em 2015 Nelson Oliveira (Movistar Team) fechou a 70ª Vuelta a 44:24 minutos do vencedor. E, como se sabe, o português nunca lutou por Grandes Voltas. Nem tão pouco é trepador.
Não se coloca em causa a dignidade e magnitude desta vitória de Tadej Pogačar que foi acompanhado no pódio por Jonas Vingegaard (Team Visma | Lease a Bike) e Florian Lipowitz (Red Bull – BORA – hansgrohe), respectivamente. Mas é importante perceber que alguns dos nomes que constam no top-10 final desta edição, noutras circunstâncias, jamais poderiam ser considerados “voltistas” – algo que efectivamente não o são. São all-rounders, puncheurs, trepadores.
Por fim, Nelson Oliveira (Movistar Team) fechou a sua 22ª Grande Volta em 74º lugar. Jonathan Milan (Lidl – Trek) ganhou a camisola da regularidade. Pogačar a da montanha. Lipowitz a da juventude. E a Team Visma | Lease a Bike levou o título colectivo para casa. Uma prova, ainda, marcada pelos “feelings” de Olivier Bonamici. Não, o Ciclismo 24 por 24 não apoia uma tal de Subida à Torre pois a brincadeira tem limites. E gozar ou troçar com o esforço dos ciclistas profissionais é uma linha que qualquer jornalista que se preze não deveria ultrapassar.
PS: o final do Tour de France com o circuito em Montmartre é um ingrediente essencial em edições futuras.
















