Depois de uma edição anterior encurtadas em três jornadas (que seriam decorridas em território português), a 76ª edição da Vuelta a España regressou com 3 417 quilómetros ao longo de 21 etapas – dois contra-relógios, quatro etapas planas, oito etapas de média montanha e sete de alta montanha, sendo seis delas com chegada em alto – a esperarem 184 atletas distribuídos por 23 equipas. No pelotão dois portugueses: Nelson Oliveira (Movistar Team) e Rui Oliveira (UAE Team Emirates).
O contra-relógio inaugural em Burgos teve a extensão de 7 100 metros. Primož Roglič (Team Jumbo – Visma), o vencedor em título, entrou a vencer. Os principais adversários minimizaram perdas. O segundo dia de prova viu Jasper Philipsen (Alpecim – Fenix) bater toda a concorrência ao sprint, tornando-se a Alpecin na primeira equipa a vencer nas três Grandes Voltas da temporada de 2021 – recordando que esta equipa é do segundo escalão. No dia seguinte, a fuga vingou. Rein Taaramäe (Intermarché – Wanty – Gobert Matériaux) distanciou os seus colegas de fuga enquanto Richard Carapaz (Ineos Grenadiers) cedia no pelotão. O estónio venceu 10 anos depois da sua primeira e única vitória na prova e cinco anos depois da sua última vitória no World Tour (por ocasião do 99º Giro d’Italia), tendo sido apenas a terceira vez que um ciclista da Estónia o fez na grande prova espanhola. Taaramäe tornou-se, ainda, líder da prova, tornando-se no primeiro ciclista do seu país a liderar a prova, o que aconteceu apenas pela segunda vez numa Grande Volta. Em 1999 o mítico sprinter Jaan Kirsipuu (116 vitórias ao longo de uma carreira que durou 21 temporadas) liderou o 86º Tour de France durante seis dias.

Os sprinters voltaram a ter destaque à 4ª etapa, com Fabio Jakobsen (Deceuninck – Quick Step) a erguer os braços, num dia onde o líder foi ao chão, já dentro dos três quilómetros finais (logo, ficou com o mesmo tempo do grupo onde estava inserido na altura da queda – no caso, o pelotão). No dia seguinte, Taaramäe voltou a ir ao chão, mas desta feita a 11,7 quilómetros do fim. Apesar de todos os esforços, o estoniano não conseguiu recolar, tendo a liderança ido para Kenny Elissonde (Trek – Segafredo), num dia onde Jasper Philipsen voltou a vencer. O 6º dia de prova teve, de forma surpresa, nova escapada a vingar. Magnus Cort (EF) aguentou todo o poderio de Primož Roglič e venceu a jornada. O esloveno voltou à liderança no final do dia.
A 7ª etapa tinha tudo para dar certo para a principal equipa da casa. Alejandro Valverde (Movistar Team), em grande forma, atacou a 43,7 quilómetros do fim, levou consigo Carapaz e, quando estavam a ganhar vantagem, um pequeno relevo na estrada deitou o Bala ao chão. A queda foi brutalmente aparatosa mas poderia ter sido pior: por pouco passou por debaixo do raile ali presente (não batendo violentamente com a cabeça nele) e a projecção terminou ao início de uma inclinada ravina. Com a clavícula fracturada, foi o fim de prova para a lenda murciana. A fuga acabaria por vingar novamente, com Michael Storer (DSM) a triunfar.
Em nova etapa para os sprinters, Jakobsen voltou a bater toda a concorrência. No dia seguinte Damiano Caruso (Bahrain Victorious) mostrou todo o seu talento que o levou ao pódio do 104º Giro d’Italia. O italiano venceu a jornada oriundo da fuga, com Roglič a bater Mas na meta logo depois. Os restantes favoritos perderam segundos importantes.

Após o primeiro dia de descanso, o mesmo filme do final da primeira semana: uma fuga a vingar. Storer aproveitou esse facto, com o seu colega de fuga Odd Christian Eiking (Intermarché – Wanty – Gobert Matériaux) a ascender à liderança da prova – tornando-se no segundo norueguês a vestir a camisola de líder da prova espanhola, 15 anos depois de Thor Hushovd. Ao 11º dia, Roglič vingou-se de Magnus Cort e roubou-lhe a vitória nos metros finais da jornada. No entanto, o dinamarquês, em sprint restrito, bateu toda a concorrência no dia seguinte. Em sprint alargado, Florian Sénéchal (Deceuninck – Quick Step) substituiu Jakobsen que não teve pernas para acompanhar o ritmo elevadíssimo da equipa e venceu a etapa.
Ao 14º dia Romain Bardet (Team DSM) superiorizou-se a todos os colegas fugitivos e mostrou que só mesmo a queda ao 5º dia o conseguiu retirar da luta pela vitória final. Antes do segundo dia de descanso, Rafał Majka (UAE Team Emirates) venceu isoladamente na prova onde tinha conquistado a sua última vitória, em 2017.

No regresso à competição, Jakobsen não deu hipótese à concorrência e selou, quase em definitivo, a camisola da regularidade em dia de aniversário. A 17ª etapa foi de total drama. Os Lagos de Covadonga receberam a Vuelta a España pela 19ª vez e, quando Odd Christian Eiking se preparava para manter a liderança, caiu. Egan Bernal (Ineos Grenadiers) atacou, levou consigo Primož Roglič que impôs um ritmo impossível de seguir para o colombiano. Este venceu e regressou à liderança da prova. A etapa seguinte terminou, de forma inédita, no Altu d’El Gamoniteiru com Miguel Ángel López (Movistar Team) a atacar a 3 900 metros do fim e a não dar hipóteses à concorrência, selando a primeira vitória para a equipa em Grandes Voltas na temporada.
No antepenúltimo dia Magnus Cort inseriu-se em nova fuga e bateu Rui Oliveira na linha de meta. A penúltima jornada foi marcada pela emoção. A Ineos atacou Roglič por todos os lados, fraccionando o grupo de favoritos. Se no primeiro grupo estava Enric Mas, no segundo estava Superman López que, vendo a sua táctica colidir com a da equipa, pousou a bicicleta e abandonou a prova, numa altura em que (ainda) estava no pódio da prova. Na frente Clément Champoussin (AG2R) aproveitou a complacência dos favoritos para obter a sua primeira vitória enquanto ciclista profissional, ele que tinha sido anulado depois de integrar a fuga do dia. A AG2R tornou-se na quarta formação a vencer nas três Grandes Voltas, a par da Alpecin – Fenix, da Bahrain Victorious e da UAE Team Emirates.

Primož Roglič venceu o contra-relógio final em Santiago de Compostela e selou a sua terceira vitória final de forma consecutiva, sendo apenas o terceiro atleta a conseguir fazê-lo. Esta vitória foi, também, apenas a 4ª vez que um ciclista venceu (pelo menos) quatro etapas e terminou no pódio final (depois de o mesmo ter acontecido em 1994, 1995 e 1998). Mas terminou em 2º – com a maior diferença para o 1º classificado em 24 anos – e Jack Haig (Bahrain Victorious) alcançou o seu primeiro pódio na carreira ao terminar no 3º lugar. A sua equipa levou, ainda, o título colectivo e a camisola da juventude de Gino Mäder. Storer venceu a camisola da montanha e Jakobsen a da regularidade – sendo apenas o 6º neerlandês a consegui-lo. Carlos Blanco (Burgos – BH) foi distinguido por ser o ciclista mais jovem em prova e o único galego na mesma, tendo concluído a sua primeira Grande Volta aos 20 anos.

Nelson Oliveira terminou em 72º e Rui Oliveira em 74º lugar. Destaque ainda para Fabio Aru (Team Qhubeka Assos) que terminou a carreira na prova que vencera em 2015.

No Jogo das Apostas Paulo Martins bateu toda a concorrência, relegando Olivier Bonamici para o seu tão amado último lugar.
