Esta é a história do ciclista que mais prometia na sua faixa etária mas cujo palmarés não fez jus a tal. No entanto, todo e cada um de nós devia inspirar-se na fidelidade de Yaroslav Popovych. Por quê? Comecemos pelo princípio.

Yaroslav Pavlovych Popovych nasceu a 4 de Janeiro de 1980 em Drohobych, Ucrânia. No escalão de sub-23 foi considerado um dos ciclistas mais promissores da sua geração, tendo conquistado 35 vitórias entre 2000 e 2001. Em 2001 tornou-se Campeão Mundial de fundo em sub-23, depois de ter ficado com a prata no ano anterior. No mesmo ano venceu a Paris-Roubaix desse mesmo escalão.

O ucraniano alcançou a vitória no Mundial sub-23 em Lisboa.

O ucraniano tornou-se profissional em 2002 na equipa belga Landbouwkrediet – Colnago. Estreou-se no Giro d’Italia, finalizando no 12º lugar. No ano seguinte pensou-se que passara de promessa a confirmação pois voltou à Corsa Rosa e finalizou no 3º lugar, a apenas cinco segundos do 2º classificado. Na segunda parte da temporada brilhou na Bélgica, fechando o pódio final da Tour de la Region Wallonne. Em 2004 Popovych centrou o seu calendário novamente em torno do Giro, tendo terminado no 5º lugar e envergando a maglia rosa por três dias.

Em 2005 o rumo da carreira de Yaroslav Popovych mudou. Assinou contrato com a Discovery Channel, aceitando tornar-se num dos gregários de luxo de Lance Armstrong, com a perspectiva de se tornar no seu sucessor no futuro. Teve a oportunidade de liderar a equipa norte-americana na Volta Ciclista a Catalunya e não desapontou: foi o mais regular e venceu a classificação geral final. Estreou-se no Tour de France, auxiliando Lance Armstrong a chegar ao seu 7º título. Terminou a prova no 12º lugar, sendo o melhor jovem em prova e contribuindo ainda para o triunfo colectivo da sua equipa. No ano seguinte, venceu o contra-relógio individual da Vuelta a Castilla y Leon, fechou em 3º lugar o Tour of Georgia, regressando posteriormente ao Tour. Embora sem o sucesso do ano transacto, muito por conta da retirada do seu líder, o ucraniano ergueu os braços ao 12º dia ao bater Alessandro Ballan e Óscar Freire, após integrar-se numa fuga que se revelou vitoriosa. Em 2007 conquistou a 5ª etapa da Paris-Nice, ao atacar isoladamente a 33 quilómetros para o fim, num triunfo final que ficou para Alberto Contador, o seu novo colega de equipa e líder. Partiu como líder para o Giro d’Italia mas viu-se forçado a abandonar à entrada do 13º dia, depois de sofrer duas quedas que o impediram de continuar na prova. Alinhou no Tour e ajudou Alberto Contador a subir ao lugar mais alto do pódio nos Campos Elísios, finalizando ainda na 8ª posição e contribuindo para o título colectivo da equipa.

Popovych foi o melhor jovem no Tour de France em 2005.

Em 2008, Popovych mudou-se para a Silence – Lotto para servir de suporte a Cadel Evans. Liderou a equipa na Paris-Nice e terminou no 3º lugar da classificação geral final. Esteve ao lado de Evans no Tour de France, tendo o australiano finalizado na 2ª posição, a 58 segundos de Carlos Sastre. Envergou o dorsal 1 da equipa na Vuelta mas a estreia do ucraniano na prova espanhola foi para esquecer. No ano seguinte foi uma escolha natural de Johan Bruyneel (que tinha sido o seu chefe na Discovery Channel) para a Astana, que acolheu o regresso de Lance Armstrong ao pelotão. Auxiliou Lance na sua estreia no Giro d’Italia (participação inédita do norte-americano que catapultou a dimensão da prova italiana) e mais tarde no Tour de France. Foi decisivo na prova, quer no 3º lugar de Armstrong, quer na vitória de El Pistolero, quer ainda no título colectivo da equipa.

Apesar de ter contrato por mais um ano com a Astana, Popovych juntou-se, uma vez mais, a Lance Armstrong, desta feita na equipa fundada pelo norte-americano, a RadioSchack. Foi peça-chave no título colectivo da equipa no Tour de France em 2010. Voltou ao Giro d’Italia no ano seguinte, terminando em 4º lugar o contra-relógio individual final e, mais tarde, participou no Tour de France mas abandonou no primeiro dia de descanso devido a um estado febril insuportável.

A retirada (definitiva) de Lance Armstrong no final de 2011 poderia deixar o ucraniano desamparado mas para a equipa chegou um peso pesado que cedo confiou nele: Fabian Cancellara. O foco do ciclista de Drohobych deixou de ser as Grandes Voltas e passou a ser as clássicas do pavé. A sua primeira exibição de destaque foi na Strade Bianche, conquistada pelo Spartacus, tendo mais tarde acompanhado o suíço na conquista do 2º lugar na Milano-Sanremo e na sua participação no Tour de France. Cancellara vestiu de amarelo e a RadioSchack foi a melhor equipa colectiva, tendo Popovych estado, mais uma vez, no pódio final da prova em Paris.

Popovych foi contributo para o 1º e 3º lugares e ainda para a vitória colectiva no Tour de France em 2009.

Em 2013 Yaroslav Popovych foi o protagonista escondido do regresso aos grandes resultados de Fabian Cancellara. O ucraniano esteve ao lado do suíço no 3º lugar da Milano-Sanremo e nas vitórias na E3 Harelbeke, no Tour des Flandres e na Paris-Roubaix. Foi escalonado para o Giro d’Italia e acompanhou, no final da temporada, Cancellara na Vuelta a España. A sua experiência revelou-se vital na recta final da prova, levando ao triunfo épico final de Chris Horner, seu colega de equipa desde 2009.

Em 2014 esteve ao lado de Spartacus nos seus maiores resultados: 2º lugar na Milano-Sanremo, vitória no Tour des Flandres e 3º lugar na Paris-Roubaix. Tal como no ano anterior, acompanhou Cancellara na Vuelta a España. 2015 foi um ano sombrio para Popovych: Fabian Cancellara caiu na E3 Harelbeke o que o tirou fora das clássicas do pavé. Estiveram juntos na Vuelta a España, pese embora o suíço tenha abandonado a prova logo ao 3º dia devido a problemas estomacais. O ucraniano finalizou aquela que seria, à partida, o seu último acto enquanto ciclista profissional. No entanto, a necessidade de Fabian Cancellara precisar do ucraniano para procurar brilhar uma última vez na Paris-Roubaix fê-lo adiar a reforma.

Correram em uníssono até ao velódromo André-Pétrieux. Popovych auxiliou o suíço na conquista da Strade Bianche e do 2º lugar no Tour des Flandres. No dia D uma queda impossibilitou Cancellara de lutar por erguer os braços no velódromo em Roubaix, mas nem isso apagou a gratidão do suíço para com o ucraniano. Em declarações à imprensa, Fabian Cancellara referiu a importância do ucraniano enquanto colega de equipa, após a sua retirada: “Ele sempre pôs a equipa em primeiro lugar apesar do seu enorme talento”.

O abraço entre os dois no velódromo de Roubaix dispensa palavras.

Para a história ficam:

  • 1º lugar na Paris-Roubaix sub-23 em 2001;
  • 1º lugar no Campeonato do Mundo de fundo sub-23 em 2001;
  • 3º lugar no Giro d’Italia em 2003;
  • 3 dias na liderança do Giro d’Italia em 2004;
  • Vencedor da classificação da juventude no Tour de France em 2005;
  • 5 triunfos colectivos no Tour de France (2005, 2007, 2009, 2010 e 2012);
  • 4 vitórias dos seus líderes com o seu auxílio (Lance Armstrong no Tour de France em 2005, Alberto Contador no Tour de France em 2007 e em 2009 e Chris Horner na Vuelta a España em 2013);
  • 6 vitórias de Fabian Cancellara em clássicas com o seu auxílio, 3 das quais Monumentos;
  • 11 pódios de Spartacus em clássicas com o seu auxílio, 8 das quais Monumentos;
  • 4 vitórias enquanto ciclista profissional;
  • 19 participações em Grandes Voltas;
  • 35 participações em Monumentos.

A fidelidade de Yaroslav Popovych levou-o a estar na elite do ciclismo durante 15 temporadas e a trabalhar com nomes como Alberto Contador, Cadel Evans, Chris Horner, Fabian Cancellara e Lance Armstrong. Um exemplo a ter em conta pelos mais jovens.

O ucraniano retirou-se como ciclista mas não abandonou a Trek – Segafredo pois tornou-se, desde o momento da retirada, director desportivo da equipa.

Popovych no seu novo papel.

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