184 ciclistas distribuídos por 23 equipas tinham à sua espera 3 410,9 quilómetros ao longo de 21 etapas, 16 das quais de montanha, sete em alta montanha, cinco das quais com chegada em alto. À partida havia um trio português: João Almeida (Deceuninck – Quick Step), Ruben Guerreiro (EF) e Nelson Oliveira (Movistar), num pelotão sem o vencedor da edição passada, Tao Geoghegan Hart (Ineos Grenadiers).

O ciclismo é, para além de competição, cultura.

O início aconteceu em Turim pelo quarto ano consecutivo. O contra-relógio de 8,6 quilómetros deu uma oportunidade aos especialistas para se mostrarem mas também para os favoritos selarem as primeiras diferenças entre si. Filippo Ganna (Ineos Grenadiers) fez jus à sua camisola de Campeão do Mundo e bateu toda a concorrência, sendo o primeiro maglia rosa da edição. O segundo dia estava escrito que seria para os sprinters e assim foi. Tim Merlier (Alpecin – Fenix), em estreia em Grandes Voltas, bateu o Campeão Europeu Giacomo Nizzolo (Qhubeka Assos), no dia em que se recordou Wouter Weylandt no 10º aniversário do seu falecimento. O belga que corria pela Leopard Trek faleceu em prova, após uma queda violentíssima, tendo o seu dorsal – 108 – sido imortalizado pelo Giro d’Italia. No dia seguinte a Bora – Hansgrohe tentou trabalhar para Peter Sagan vencer ao sprint mas a fuga viria a vingar e Taco van der Hoorn (Intermarché – Wanty – Gobert) triunfou. Esta foi a primeira vitória da equipa na temporada e a segunda no WorldTour. A primeira fora em 2016 por Enrico Gasparotto na Amstel Gold Race.

Ao quarto dia, as primeiras montanhas. Com o mau tempo a transitar do dia anterior, a fuga voltou a vingar, com Joe Dombrowski (UAE Team Emirates) a vencer a jornada e Alessandro De Marchi (Israel Start-Up Nation) a tornar-se no novo líder da geral. Nelson Oliveira terminou em 8º lugar a jornada e subiu a 4º na geral, enquanto João Almeida teve um dia para esquecer, perdendo minutos importantes para os demais favoritos. A 5ª etapa foi conquistada ao sprint por Caleb Ewan (Lotto Soudal), com Nizzolo novamente a bater na barra. O dia ficou ainda marcado por quedas violentas que levaram ao posterior abandono dos favoritos Mikel Landa (Bahrain Victorious) e Pavel Sivakov (Ineos Grenadiers).

Tim Merlier, que nunca correu no WorldTour, bateu toda a concorrência desse escalão de forma categórica na primeira etapa em linha.

A montanha voltou no dia seguinte e com ela nova fuga a vingar. Gino Mäder (Team Bahrain Victorious) atacou a 3,3 quilómetros do fim e ergueu os braços no final, com o seu colega de fuga Attila Valter (FDJ) a ascender à liderança da prova, sendo o primeiro húngaro a vestir a maglia rosa. O dia seguinte foi novamente protagonizado pelos sprinters e nomeadamente por Caleb Ewan que superou toda a concorrência, num dia em que Domenico Pozzovivo (Qhubeka Assos) disse adeus à prova, na sequência das duas quedas que sofreu no dia anterior. À 8ª jornada, nova etapa de montanha e nova fuga a vingar. Victor Lafay (Team Cofidis) atacou na recta final e venceu, isoladamente, obtendo a sua primeira vitória enquanto profissional. Nelson Oliveira terminou em 4º lugar a jornada, após ser um dos integrantes da fuga do dia.

O 9º dia começou com uma queda assustadora de Matej Mohorič (Bahrain Victorious) que foi salvo, literalmente, pelo seu capacete e terminou com os favoritos a terem o seu primeiro real confronto. Egan Bernal (Ineos Grenadiers) deu uso da sua experiência em sterrato adquirida por ocasião da Strade Bianche e impôs um ritmo impossível de acompanhar, vencendo e ascendendo à liderança da geral. Esta foi a sua primeira vitória de etapa em Grandes Voltas da carreira. A última etapa antes do primeiro dia de descanso foi a mais curta da edição – 139 quilómetros – e culminou com a vitória de Peter Sagan (Bora – Hansgrohe), que bateu Fernando Gaviria (UAE Team Emirates) e Davide Cimolai (Israel Start-Up Nation), respectivamente.

Egan Bernal deu a sua primeira prova de superiodade ao 9º dia no sterrato.

Após o dia de descanso, o sterrato marcou de novo presença na prova e, apesar de Egan Bernal ter-se distanciado de toda a concorrência, a vitória ficou para a fuga e para Mauro Schmid (Team Qhubeka Assos), nesta que foi a sua primeira vitória da carreira enquanto profissional. O dia seguinte foi novamente protagonizado pela fuga do dia, com Andrea Vendrame (AG2R) a bater Chris Hamilton (Team DSM), num dia em que não houve alterações entre os favoritos à classificação geral, exceptuando a desistência de Marc Soler (Movistar). A 13ª etapa foi a etapa de Giacomo Nizzolo. Aos 32 anos o italiano bateu toda a concorrência e venceu pela primeira vez numa Grande Volta, ele que tem o maior número de top-3 em etapas sem nunca ter vencido – 16, 11 segundos lugares e 5 terceiros. O Monte Zoncolan esperava os ciclistas ao 14º dia e a pergunta era: quem iria ser o protagonista do dia depois de Chris Froome em 2018? Com Nelson Oliveira de novo em fuga, foi o seu colega de fuga Lorenzo Fortunato (Eolo – Kometa) a figura do dia. O italiano deu, em solitário, a primeira vitória da temporada à equipa, a primeira desde que subiu ao 2º escalão do ciclismo e a primeira em Grandes Voltas. De recordar que esta formação, originalmente espanhola, é da autoria de Alberto Contador e Ivan Basso, tendo ido para a estrada em 2018. No pelotão, Bernal desferiu novo golpe sob a restante concorrência.

O 15º dia começou com a corrida neutralizada após uma queda a envolver vários ciclistas, entre eles Ruben Guerreiro e Emanuel Buchmann (Bora – Hansgrohe) – 6º classificado à geral – que abandonaram a prova. Na retoma, a fuga do dia formou-se e vingou. Victor Campenaerts (Qhubeka Assos) venceu, batendo ao sprint um dos seus companheiros de fuga, Oscar Riesebeek (Alpecin – Fenix). A 16ª etapa foi, à partida, encurtada devido às condições climatéricas mas nem isso impediu Egan Bernal de brilhar. O colombiano atacou a 20 quilómetros do fim e só parou na linha de meta. Simon Yates (BikeExchange) teve um dia para esquecer, tendo passado a ser o discreto e veterano Damiano Caruso (Bahrain Victorious) o principal rival do vencedor do Tour de France em 2019.

À 11ª Grande Volta a primeira vitória em etapa para Giacomo Nizzolo.

A terceira semana começou com Egan Bernal a perder tempo para Simon Yates, João Almeida e Damiano Caruso, numa etapa com chegada em alto conquistada pelo fugitivo Dan Martin (Israel Start-Up Nation). O dia ficou ainda marcado pela queda e consequente abandono de Giulio Ciccone (Trek – Segafredo), italiano que estava entre os melhores desta edição. Nova fuga vingou no dia seguinte, com o pelotão a chegar a mais de 23 minutos do vencedor, Alberto Bettiol (EF). A antepenúltima etapa colocou de novo os favoritos frente-a-frente e foi Simon Yates a atacar e a vencer isoladamente, consolidando o seu lugar no pódio. João Almeida terminou no 2º lugar, e a cerca de meio minuto chegaram Bernal e Caruso.

A última etapa em linha teve a equipa da DSM a trabalhar para o seu líder, Romain Bardet, e a Bahrain aproveitou para tentar a sua sorte com Damiano Caruso, a mais de 50 quilómetros da meta. A ousadia teve os seus resultados e Caruso venceu a etapa isoladamente, conseguindo a sua primeira vitória WorldTour à beira dos 34 anos e na sua 11ª temporada no escalão máximo do ciclismo. O contra-relógio final confirmou a vitória final de Egan Bernal, num dia em que a Ineos triunfou novamente com Filippo Ganna, que mesmo depois de furar nos metros finais do seu esforço individual obteve o seu 5º triunfo consecutivo em contra-relógios do Giro d’Italia.

A imagem da edição: Damiano Caruso, gregário uma carreira inteira, agradece a Pello Bilbao, normalmente o seu líder, o seu trabalho na etapa 20.

Damiano Caruso terminou a prova em 2º lugar e, pela 7ª vez consecutiva, a diferença entre 1º e 2º revelou-se inferior a dois minutos. Simon Yates completou o pódio da geral classificativa. João Almeida finalizou no 6º lugar e Nelson Oliveira no 27º, tendo terminado 143 atletas numa edição onde 10 fugas tiveram o seu êxito, um número bem mais elevado que o habitual. Peter Sagan conquistou a camisola por pontos, Geoffrey Bouchard (AG2R) a camisola da montanha, com a Ineos a levar para casa o título colectivo, para lá da terceira maglia rosa em quatro anos e ainda da camisola da juventude, ambas através do mesmo homem, Egan Bernal.

Top-10 final da edição.

Por fim, no Jogo das Apostas – Eurosport, Olivier Bonamici deitou tudo a perder no último dia de prova, ficando a maglia rosa na posse de Luís Piçarra, ele que já não vencia desde o 102º Tour de France, em 2015.

Jogo das Apostas – Eurosport em detalhe.

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