3 414,4 quilómetros distribuídos por 21 etapas – dois contra-relógios individuais, três etapas planas, oito etapas de média montanha e oito etapas de alta montanha, três das quais com chegada em alto – colocaram à prova 184 ciclistas (45 dos quais estreantes) distribuídos por 23 equipas. À partida dois portugueses: Ruben Guerreiro (EF) e Rui Costa (UAE Team Emirates).

A 108ª edição do Tour de France foi marcada pelo drama, mas também por momentos mágicos e apaixonantes.

A Bretanha recebeu pela quarta vez o início do Tour de France. O 1º dia ficou marcado pelas quedas, nomeadamente a 47 quilómetros do fim quando Tony Martin (Team Jumbo – Visma) foi vítima de um cartaz colocado no local errado, à hora errada e que levou (quase) um pelotão inteiro ao chão. A 2 000 metros do fim Julian Alaphilippe (Deceuninck – Quick Step) atacou, não mais sendo alcançado, vencendo a jornada e tornando-se no primeiro camisola amarela da 108ª edição da prova. O dia seguinte foi o dia de Mathieu van der Poel (Alpecin – Fenix). O neerlandês não deu qualquer hipótese no Mûr-de-Bretagne, numa das vitórias mais emotivas dos últimos anos da prova pois este, ao ascender a líder da geral, concretizou um objectivo de vida do seu avô, Raymond Poulidor. A 3ª etapa foi marcada pelas quedas de Geraint Thomas (Ineos Grenadiers), Primož Roglič (Team Jumbo – Visma) e Jack Haig (Bahrain Victorious), levando os últimos dois a abandonar posteriormente. Com o pelotão fraccionado a Alpecin – Fenix fez dobradinha com Tim Merlier e Jasper Philipsen, mantendo ainda a camisola amarela na posse de Mathieu van der Poel. O último dia na Bretanha foi marcado pelo ressuscitar de Mark Cavendish (Deceuninck – Quick Step), que voltou a triunfar na prova depois de um hiato de cinco anos, num dos regressos mais mediáticos e históricos de sempre do desporto.

A cronologia de um dos dias mais importantes da carreira de Mark Cavendish: o dia em que voltou a vencer no Tour de France.

O primeiro contra-relógio individual chegou ao 5º dia e foi marcado por dois esforços ímpares por parte da UAE Team Emirates e da Alpecin – Fenix. A primeira levou o seu líder, Tadej Pogačar, à vitória de etapa, enquanto a segunda conseguiu preservar a liderança na posse do seu líder, Mathieu van der Poel. No dia seguinte, Mark Cavendish venceu em Châteauroux, tal como havia feito nas duas chegadas anteriores (2008 e 2011). A 7ª etapa foi a etapa mais longa da edição (249,1 quilómetros) e foi marcada pela primeira fuga a vingar. Matej Mohorič (Bahrain Victorious) ergueu os braços, num dia em que van der Poel inseriu-se nessa mesma fuga vitoriosa, a fim de manter, por mais um dia, a camisola amarela. A alta montanha chegou à 8ª etapa e com ela sobressaiu apenas e só um nome: Tadej Pogačar. Este atacou a 30 quilómetros do fim, ninguém conseguiu dar resposta e o esloveno foi o grande vencedor do dia, subindo à liderança da prova, mesmo não tendo alcançado todos os fugitivos do dia. A vitória de etapa ficou, então, entregue a Dylan Teuns (Bahrain Victorious). A primeira semana terminou com nova fuga a vingar nos Alpes, com Ben O’Connor (AG2R) a vencer e a intrometer-se na luta de uma geral classificativa liderada por Pogačar que voltou a atacar e a distanciar-se dos seus mais directos rivais.

Bem O’Connor venceu a 9ª etapa e tornou-se numa das surpresas da 108ª edição.

Após o primeiro dia de descanso os sprinters tiveram nova oportunidade e Mark Cavendish voltou a picar o ponto, finalizando assim um trabalho perfeito realizado pela sua equipa ao longo do dia. A 11ª etapa tinha reservado uma dupla ascensão ao Mont Ventoux e Wout van Aert (Team Jumbo – Visma) surpreendeu tudo e todos ao atacar os companheiros de fuga a 33 quilómetros do fim, parando apenas na meta ao erguer os braços. Entre os favoritos, Pogačar chegou junto de Jonas Vingegeaard (Team Jumbo – Visma), Richard Carapaz (Ineos Grenadiers) e Rigoberto Urán (EF). O dia seguinte começou com o pelotão fraccionado devido a bordures e terminou com o mesmo pelotão a chegar compacto, deixando a fuga vingar com mais de 15 minutos, com a vitória a sorrir a Nils Politt (Bora – Hansgrohe). Os sprinters voltaram a ter nova oportunidade no 13º dia e Mark Cavendish fez história pois venceu e igualou o número de vitórias de etapa de Eddy Merckx – 34 – um recorde estabelecido há 46 anos.

Mark Cavendish somou a sua 34ª vitória no Tour de France ao 13º dia de prova.

A 14ª etapa viu nova fuga a vingar, com Bauke Mollema (Trek – Segafredo) a sair do grupo de escapados a 43 quilómetros do fim e a não mais ser alcançado. Entre os favoritos não houve diferenças, excepto o facto de Guillaume Martin (Cofidis) ter entrado no top-10 fruto de ter estado na fuga do dia. A última etapa antes do segundo dia de descanso teve nova fuga a vingar, com Ruben Guerreiro a brilhar, Alejandro Valverde (Movistar) a mostrar-se lendário mas com a vitória a cair para um Sepp Kuss (Team Jumbo – Visma) a correr em “casa” e que atacou de forma irrepreensível na última dificuldade do dia, a 19,5 quilómetros do fim.

A terceira semana começou com nova etapa de alta montanha e com nova fuga a vingar. Patrick Konrad (Bora – Hansgrohe) venceu emocionada e solitariamente, sem alterações num grupo de favoritos que chegou a cerca de 14 minutos. A alta montanha prosseguiu na 17ª etapa e Pogačar liderou as hostilidades, vencendo, num dia em que Urán descolou do habitual quarteto a 7,5 quilómetros da meta. Na última etapa de montanha, o mesmo cenário: Pogačar venceu a etapa de alta montanha, com Vingegaard e Carapaz a seguirem-no e com Urán em crescentes dificuldades. A 19ª ditava uma última oportunidade para os sprinters antes da chegada a Paris mas a Deceuninck – Quick Step preferiu “dar” a etapa à fuga, adiando a quebra do recorde de vitórias de etapa Eddy Merckx por parte de Mark Cavendish que tanto se esperava. Entre os fugitivos Matej Mohorič foi o mais forte e voltou a vencer, com o pelotão a chegar a mais de 20 minutos.

Tadej Pogačar venceu vestido de amarelo pela primeira vez na 17ª etapa.

O segundo contra-relógio surgiu no penúltimo dia de prova mas não trouxe alterações entre os demais favoritos, num esforço individual onde Wout van Aert foi o mais forte. Na consagração em Paris, o belga voltou a vencer, desta feita ao sprint, para desalento da Deceuninck que tinha apostado em fazer (ainda mais) história nos Campos Elísios com Mark Cavendish. Aert foi o mais forte, com Jasper Philipsen e Cavendish a fecharem o pódio, respectivamente.

Wout van Aert venceu ao sprint, depois de ter vencido no contra-relógio e na alta montanha.

Tadej Pogačar venceu pelo segundo ano consecutivo a camisola amarela, da montanha e da juventude. Tornou-se, ainda, no jovem sub-23 mais vitorioso da prova desde a II Guerra Mundial (com seis vitórias de etapa – três oriundas da edição anterior – superando Didi Thurau). Mark Cavendish levou para a casa a sua segunda camisola verde, 10 anos depois da primeira. A Bahrain Victorious venceu colectivamente e Franck Bonnamour (B&B Hotels p/b KTM) foi o Super Combativo, fruto do facto de seis das sete fugas que integrou terem vingado. Quanto aos portugueses, Ruben Guerreiro terminou no 18º lugar da classificação geral, enquanto Rui Costa fechou no 77º e tendo sido uma peça importante para as conquitas do seu líder, numa 108ª edição que terminou na mesma data que a 1ª. Terminaram 141 ciclistas, com nota para Chris Froome (Israel Start-Up Nation) que voltou à prova e terminou-a, depois da lesão gravíssima sofrida em 2019 quando caiu no Critérium du Dauphiné. Nota ainda para o colega de equipa do britânico, Dan Martin, que completou quatro Grandes Voltas consecutivas em menos de um ano civil, o que constitui um recorde absoluto.

Top-10 final.

Por fim, no Jogo das Apostas – Eurosport, Olivier Bonamici fez uma reviravolta impressionante, destruindo uma liderança que parecia imaculada de José Azevedo e vencendo pela segunda vez na Grande Boucle.

Jogo das Apostas – Eurosport em detalhe.

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