176 ciclistas distribuídos por 22 equipas apresentaram-se à partida da 74ª edição da Vuelta a España. No pelotão não constava o vencedor da edição passada, Simon Yates, mas constava um quinteto luso: Ruben Guerreiro (Team Katusha – Alpecin), Nelson Oliveira, (Movistar Team), Domingos Gonçalves (Caja Rural), Nuno Bico e Ricardo Vilela (Burgos – BH). Pela frente os ciclistas teriam 21 etapas e quase 3 300 quilómetros.
No contra-relógio colectivo inaugural, a Jumbo – Visma teve uma queda aparatosa (provocada por um misterioso charco de água) com cinco dos seus ciclistas, o que atrasou a equipa de Primož Roglič na luta pela geral. Como se não bastasse, a equipa que partiu a seguir, a Deceuninck – Quick Step, foi também prejudicada no seu contra-relógio, pois os carros de apoio da Jumbo – Visma ainda se encontravam no local da queda quando os corredores da Deceuninck passaram por lá. A equipa belga acabou por terminar em segundo lugar, a dois segundos da Astana que viu Miguel Ángel López ser o primeiro líder da geral individual. No dia seguinte, uma subida de 2ª categoria eliminou os sprinters da disputa pela jornada, que ficou a cargo de um grupo restrito de favoritos, sem o líder da prova presente. Nairo Quintana (Movistar Team) atacou a três quilómetros do fim, vencendo de forma isolada. Nicolas Roche (Team Sunweb) subiu à liderança da prova.
Ao terceiro dia, a primeira oportunidade para os sprinters. Sam Bennett (Bora – Hansgrohe) venceu categoricamente. No dia seguinte, o irlandês foi apenas batido milimetricamente por Fabio Jakobsen (Deceuninck – Quick Step), num dia marcado pelo abandono de Steven Kruijswijk (Team Jumbo – Visma). A 5ª etapa foi marcada pela primeira fuga bem-sucedida desta edição. Ángel Madrazo (Burgos – BH) fez uma gestão de esforço perfeita, obtendo uma grandiosa vitória, premiada ainda com a liderança da classificação da montanha. Na luta pela geral final, Miguel Ángel López recuperou a liderança outrora perdida, ao ter-se destacado dos restantes favoritos.
O dia seguinte foi marcado, novamente, por uma fuga, desta feita com Nelson Oliveira a lutar pelo triunfo. O português esteve na frente, junto de Tsgabu Grmay (Mitchelton – Scott), até três quilómetros do fim, altura em que Dylan Teuns (Bahrain Merida) e Jesús Herrada (Cofidis) os alcançaram e disputaram o triunfo, com o espanhol da Cofidis a levar a melhor sob o belga que, ainda assim, ascendeu à liderança da prova. A chegada ao Alto Mas de La Costa foi disputada pelos favoritos: Ángel López, Primož Roglič, Nairo Quintana e Alejandro Valverde (Movistar Team). O Campeão do Mundo venceu mesmo a etapa, com Miguel Ángel López a ser novamente o líder da geral. Antes do primeiro dia de descanso, Nikias Arndt (Team Sunweb) venceu ao sprint os companheiros de fuga, entre eles Ruben Guerreiro, que fechou em quarto. Como consequência da vantagem que a fuga obteve sob o pelotão (superior a nove minutos), Nicolas Edet (Cofidis) foi para o dia de descanso na liderança.
O regresso à estrada deu-se em alta montanha. Nicolas Edet cedo descolou do grupo dos favoritos. Marc Soler (Movistar Team) seguia isolado para a vitória quando recebeu indicação que tinha que esperar para “rebocar” Quintana, que começava a desiludir, como habitual. Quem aproveitou a fragilidade do colombiano foi Tadej Pogačar que lançou-se ao ataque, vencendo. No entanto, acabou por ser mesmo Quintana a ascender à liderança da prova. O dia seguinte foi para os especialistas no esforço individual. Primož Roglič não defraudou as expectativas, e arrasou toda a concorrência, tendo vencido o contra-relógio e assaltando a La Roja, com Valverde a quase 2 minutos de distância. Nelson Oliveira terminou a etapa num fabuloso 5° lugar.
Na etapa 11, a transição de Franca para a Espanha foi sinónimo de nova fuga a vingar, com Mikel Iturria (Euskadi Basque Country – Murias), a chegar isolado à meta. Ao 12º dia, o Alto de Arraiz viu Philippe Gilbert (Deceuninck – Quick Step) a tornar mais uma fuga bem-sucedida. Os candidatos à geral apareceram novamente no dia seguinte, com o duo esloveno a disputar o triunfo. Pogačar levou a melhor sob Roglič que se manteve líder da geral. Os sprinters voltaram à acção ao 14º dia, com Sam Bennett a obter novo triunfo, apesar da queda que fraccionou o pelotão no quilómetro final.
Ao 15º dia Ruben Guerreiro esteve na rota da vitória, tendo sido apenas batido por Sepp Kuss (Team Jumbo – Visma). Nos favoritos Roglič e Valverde ganharam 40 segundos aos restantes candidatos à geral. O dia seguinte foi igualmente marcado por uma fuga, desta feita pelo então desaparecido Jakob Fuglsang (Astana). A etapa ficou igualmente marcada pela troca na liderança da montanha: Geoffrey Bouchard (AG2R La Mondiale) tornou-se o novo líder, por troca com Madrazo. A etapa mais longa da edição, com 219,6 quilómetros, contou com uma fuga de luxo, nomeadamente o atrasado Quintana, o combativo Gilbert e o sprinter Bennett. O sprinter irlandês procurou mesmo a vitória mas viu o veterano combativo belga superá-lo.
A etapa 18 foi marcada por nova fuga, com Sergio Higuita (EF Education First) a erguer os braços no final. Roglič terminou em segundo, com o mesmo tempo que Valverde, mas aumentou a sua liderança devido às bonificações. A antepenúltima etapa foi marcada pela vitória solitária de Rémi Cavagna (Deceuninck – Quick Step). O francês atacou a fuga onde estava inserido e aproveitou o caos do pelotão (provocado pela queda do líder da prova) para não mais ser alcançado. Na última oportunidade para os favoritos à geral Tadej Pogačar voltou a vencer. O corredor mais novo desta edição garantiu, assim, a camisola da juventude e um lugar no pódio final. Em segundo lugar, a mais de um minuto e meio, chegou o corredor mais velho da prova, Valverde, que assim confirmou o seu segundo lugar na classificação geral final.
Na consagração de Roglič, no sprint entre os dois suspeitos do costume, Jakobsen bateu Bennett. No entanto, a camisola da regularidade ficou mesmo para o vencedor da prova. A Movistar Team levou para casa a classificação colectiva e Ángel López o prémio da combatividade.
Em relação aos portugueses, o destaque vai para Ruben Guerreiro que na sua primeira grande volta terminou em 17°, tendo-se mostrado em bom plano em algumas jornadas. Quanto aos restantes, apenas Domingos Gonçalves não chegou ao fim da prova.
No Jogo das Apostas – Eurosport, Paulo Martins voltou a vencer, depois de ter começado a temporada a vencer no 102º Giro d’Italia, tendo perdido posteriormente no 106º Tour de France para Luís Piçarra.