Esta é a história de um ciclista que marcou toda uma geração e toda uma nação. Um exemplo de irreverência e perseverança. Todo e cada um de nós devia encontrar inspiração em Joaquim Rodríguez. Por quê? Comecemos pelo princípio.
Joaquim Rodríguez Oliver ou simplesmente “Purito”, como carinhosamente ficou conhecido no pelotão internacional, nasceu a 12 de Maio de 1979 em Barcelona, Espanha tendo a sua qualidade marcado toda uma geração. Mas de onde, afinal, a sua alcunha de “Purito”?
Tudo começou no estágio com a sua primeira equipa profissional, a ONCE, em Janeiro de 2001. Manolo Saiz tinha por hábito dividir o colectivo em dois: o grupo dos roladores e o grupo dos trepadores, onde Joaquim se inseria. Nesse grupo estavam nomes com resultados concretos nas Grandes Voltas como Abraham Olano, Igor González de Galdeano, Joseba Beloki ou Mikel Zarrabeitia. Nesse estágio, quando o terreno inclinou, Joaquim Rodriguez tentou sempre seguir isolado na frente e, de modo a mostrar frescura física (mesmo quando ela não existia), o espanhol começou a fazer o gesto de quem estava a fumar um Purito. E assim nasceu a alcunha do ciclista que, no seu ano de estreia enquanto profissional, venceu a famosa Escalada a Montjuic, que situava-se na sua cidade natal. Participou ainda no Giro d’Italia.
Em 2005 e já na Saunier Duval – Prodir, Joaquim Rodríguez conseguiu o seu primeiro grande feito numa prova de três semanas ao conquistar a classificação da Montanha na Vuelta a España, depois de em 2003 já ter envergado a Camisola Dourada e vencido uma etapa. A partir de 2006, com a sua entrada na equipa Caisse d’Epargne, a carreira do catalão começou a ganhar uma relevância diferente da que tinha até então. Alcançou vitórias em etapas na Paris-Nice, o título de Campeão Nacional de estrada em 2007, vitórias em etapas do Tirreno-Adriático (2008 e 2009), o 6º lugar na classificação geral da Vuelta a España e o pódio na Liège-Bastogne-Liège em 2009.
A partir de 2010, com a entrada para a equipa Katusha, Purito obteve os mais importantes resultados da sua carreira. Venceu a Vuelta Ciclista a Catalunya, fechou em 3º lugar a Vuelta Ciclista al País Basco, em 2º a La Flèche Wallonne, em 6º o Tour de France, e ainda em 3º a Vuelta a España. No ano seguinte teve uma temporada regular, mas sem grande relevo em termos de vitórias individuais. Obteve um 2º lugar na Amstel Gold Race e na La Flèche Wallonne, terminando em 4º lugar o Giro d’Italia.
O ano de 2012 foi o ano-chave da carreira de Joaquim Rodríguez. Apesar de uma enorme temporada, o catalão ficou com um amargo de boca porque viu por duas ocasiões o título que tão ansiosamente pretendia fugir-lhe por entre os dedos: a conquista de uma Grande Volta. Aconteceu no Giro d’Italia quando perdeu a liderança no contra-relógio final para Ryder Hesjedal em plena Praça di Duomo em Milão. E aconteceu na Vuelta a España ao ser vítima do génio de Alberto Contador na famosa subida de Collada de la Hoz. No entanto, o espanhol alcançou resultados de enorme nível terminando, o Giro na 2ª posição com duas vitórias em etapa e a Vuelta em 3º lugar vencendo três etapas. Além disso, a vitória na La Flèche Wallonne, na Il Lombardia (um dos 5 Monumentos do ciclismo) e no Ranking da UCI são factos a assinalar.
Em 2013 Rodríguez completou o pódio nas três Grandes Voltas ao ser 3º classificado no Tour de France e posteriormente 4º na Vuelta a España. Revalidou o título na Lombardia. No final do ano perdeu o título de Campeão do Mundo dentro do último quilómetro de corrida, ao ser apanhado e batido ao sprint por Rui Costa.
Em 2014 e 2015 as vitórias continuaram, com triunfo em etapas da Vuelta a España (onde foi 4º em 2014 e em 2015 perdeu apenas para Fabio Aru), do Tour de France e com vitórias na classificação geral de provas como a Vuelta al País Basco ou a Volta Ciclista a Catalunya.
Em 2016, Purito anunciou a sua retirada e, apesar de não ter vencido qualquer corrida nesse ano, apresentou-se a bom nível no Tour de France onde fechou em 7º lugar e posteriormente na Clásica Ciclista San Sebastián onde finalizou em 4º. O desfecho estava marcado para a prova de fundo dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro onde fechou em 5º lugar. Seria o suposto fim de ciclo. No entanto, a Katusha obrigou-o a estar presente na Milano – Torino, no Giro del Piemonte e na Il Lombardia, onde o catalão não completou nenhuma das corridas. Presumível. Posto isto, Purito assinou um contrato de dois anos com a Bahrain – Merida. Após correr muita tinta, houve a explicação lógica: Purito poderia de facto correr, mas a questão centrava-se nos pontos que o catalão obteve durante a época, essenciais à recém-criada Bahrain – Merida, de modo a poderem escalonar-se no World Tour. Semanas depois, tornou-se oficial o adeus, ficando Purito ligado à equipa enquanto conselheiro.
Para trás ficaram 24 presenças em Grandes Voltas (completando 22, 12 das quais no top-10, cinco das quais no pódio), 48 vitórias, seis das quais em classificações gerais, duas vitórias em Monumentos e uma carreira marcada pela regularidade, pelo estilo irreverente e explosivo.
Actualmente é comentador de ciclismo no canal público espanhol – TVE – e embaixador da marca Orbea.